Por estratégia de mercado, ele não revela o nome verdadeiro nem a idade. Zé Rodrigo é assim: um caso pensado, talvez projetado pelos anos de terapia que o ajudaram a descobrir quem ele realmente é. Determinado, talentoso, perfeccionista… Qualidades ou defeitos? Pode parecer pretensioso, e talvez seja, mas O Cara tem coragem para dizer que a experiência nos programas da Globo “foi muito legal, mas não resolve a vida de ninguém”. Tal como seu ídolo Frank Sinatra, Zé Rodrigo não tem medo de parecer polêmico – ou será que, na verdade, polemizar é seu grande objetivo?

Chega uma hora na vida do cantor de banda que dá vontade de fazer trabalho solo?

São vários os motivos que levam alguém a isso. No meu caso, não envolveu ego, ficou no campo do business, mesmo. A formação da Soulution [Soulution Orchestra, banda na qual Zé Rodrigo é idealizador e vocalista] é muito grande e eu não conseguia chegar a alguns lugares por conta disso. O trabalho solo me deu um grupo menor com a mesma qualidade e repertório.

Qual o pior defeito de um músico?

Não entender que além de talento, estudo e paixão existe o comercial que rege o sucesso de um artista. Conheço pessoas que têm horror a tratar de negócios e administrar a carreira, por isso acabam rápido. O business é minha paixão e estou nele há vinte anos.

E o seu defeito como músico?

Nossa, todos (risos)! Minha afinação não é boa, não sei vocalizar, não canto de tudo, não consigo soar bem cantando em português, e por isso não o faço, tenho um processo de aprendizado lento… Mas esses defeitos me deram característica no que faço. Vejo que minhas limitações acabaram sendo minha maior qualidade.

Você tem preconceito musical?

Opa, e como! Não é pré-conceito: é conceito, mesmo. Para mim, música serve para formar; no Brasil, serve para tirar dinheiro de trouxas. A música nos ajuda a entender a história do seu povo, a conhecer sua cultura e amar a arte. No Brasil de hoje a música é uma vergonha à cultura, não agrega valores e não cria pessoas inteligentes. Pena das nossas crianças e saudades de Tom Jobim!

Por que você decidiu cursar Psicologia?

Boa parte das pessoas que cursa Psicologia é para resolver os próprios problemas sem consciência disso. Depois de um tempo de análise percebi o que queria da vida. A Psicologia foi extremamente útil, me ensinou quais caminhos tomar. Todo mundo deveria ter contato com algum tipo de terapia na vida.

 Você já descobriu qual a sua função no mundo?

Passar a música para frente. Não sei escrevê-la, mas sempre amei interpretá-la. Frank Sinatra dizia: “A história está escrita ali no papel. Vai lá: conte-a!” Acho que essa é a minha função no mundo.