A moça aí acima é uma vitoriosa. Não apenas por ter feito seus exames preventivos e depois do diagnóstico precoce de câncer ter enfrentado uma cirurgia e sessões de quimioterapia. Michele Jamcoski é uma vitoriosa por descobrir no seu câncer de mama uma oportunidade para se reinventar e para sensibilizar muitas outras mulheres para a importância da prevenção. Aos 35 anos ela descobriu que a vida pode ser mais simples, saborosa e intensa.

A DESCOBERTA
Eu sempre fui muito preocupada com a minha saúde, há algum tempo já estava me programando para fazer os exames, mas sempre aparecia alguma coisa e eu deixava para depois. Até que fui a uma consulta e o médico disse que eu não precisava fazer a mamografia, que era muito nova. Eu disse que já havia amamentado, que tenho dois filhos e, por ser filha adotiva, não tenho histórico de família, mas ele não me deu a requisição. Aí mudei de médico, fui a uma ginecologista. Ela também disse que não havia necessidade, mas como insisti ela me encaminhou para uma ecografia e uma mamografia. Eu fiz os exames e já na ecografia apareceram os nódulos, três na mama esquerda e dois na direita.

No aniversário de namoro, ainda sem ter ideia do câncer
No aniversário de namoro, ainda sem ter ideia do câncer

O CHÃO TREMEU
A médica falou que eu esperasse seis meses para repetir o exame, mas eu fiquei tão preocupada que quando peguei o resultado da mamografia já procurei um oncologista. Meu namorado foi junto e eu falei para ele que o máximo que poderia acontecer seria o médico olhar para mim e falar que eu sou uma exagerada e que não havia nada. Infelizmente não foi isso que aconteceu. O médico pediu uma biópsia e quando voltei para levar o resultado da consulta não deu outra, era maligno. Naquele momento só senti a mão do meu namorado me apertando, eu não queria chorar, mas não teve jeito, as lágrimas começaram a escorrer sem parar. Esse momento é o pior. Meu chão começou a tremer, o médico continuou a falar e eu já nem escutava mais. Ficava só pensando o que eu ia fazer dali para a frente.

E AS CRIANÇAS?
Decidimos contar tudo para os meninos, que têm 11 e 12 anos. Contamos como seria o tratamento, mas o melhor das crianças é que por não entender muito bem o que está acontecendo elas não fazem muitas projeções e vão vivendo cada momento de uma vez. Essa foi uma grande lição que aprendi com eles.

É PRECISO SER FORTE
Ele me encaminhou para cirurgia, fiz uma quadrantectomia, um procedimento em que tiram só um quadrante, como se fosse um quadrado onde está o tumor. Na hora da cirurgia tive medo de morrer, eu me despedi de todo mundo, disse que amava a todos, mas no momento que deitei na maca eu entreguei minha vida a Deus. A maior dificuldade que encontrei é que você está fragilizada, mas precisa se mostrar forte porque você percebe que se cair todo mundo que está ao seu lado cai também. A cirurgia foi bem tranquila, perfeita, e cicatriz ficou pequenininha.

PRESENTE DE GREGO
Depois que recebemos o resultado da biópsia, o médico decidiu qual caminho iríamos seguir. O meu tumor era pequeno, mas bem agressivo, grau 3, e pela minha idade ele optou por fazer quatro sessões de quimioterapia. Eu faço aniversário 10 de junho e dia 9 eu recebi essa notícia. Realmente, um presente daqueles! Tive muito medo dos efeitos colaterais, porque a gente sempre ouve as piores histórias dos cabelos caindo, dos enjoos. A primeira coisa que senti após a quimio foi um grande cansaço e a alteração na percepção dos sabores. Por isso tem muita gente que emagrece. Você não consegue comer!

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Quando descobri que ia fazer a quimioterapia cortei meu cabelo bem curto

NA HORA DO BANHO
Eu tinha cabelo no ombro, mas quando soube que ia fazer quimio cortei bem curtinho, estilo joãozinho. No 13° dia, eu puxava e já saía um chumaço de cabelo. Era horrível na hora do banho porque caía demais e eu levava mais tempo tirando o cabelo do corpo do que qualquer outra coisa. Por mais que eu tivesse o apoio da família, com todo mundo falando que o cabelo voltaria a crescer, esse foi um momento difícil.

HORA DE RASPAR A CABEÇA
Eu não queria de jeito nenhum cortar meu cabelo num salão porque não queria que ninguém tivesse pena de mim. Foi meu namorado que raspou meu cabelo. Naquele momento, ali no banheiro de casa, eu quis chorar. Mas não chorei e dei um basta e disse: “Chega! Chega de sentir pena de mim mesma”.

QUANDO ELE CHOROU
Para ele foi uma barra porque me acompanhou em todos os exames e é o meu grande companheiro, a pessoa que está comigo todos os dias. No dia que eu sentei para fazer a quimioterapia, na hora em que a enfermeira saiu para buscar o remédio, ele chorou. Foi a primeira vez na vida que eu vi ele chorar. Ali pesou e eu tive que falar para ele “Olha, está tudo bem, eu estou bem” e me segurei muito para não chorar.

SEMPRE EM FRENTE

Ainda tenho que fazer 28 sessões de radio e 10 anos de tratamento com hormônio. Houve um momento em que eu quis dar uma relaxada e dizer que eu estava sofrendo então eu vi meu namorado e as crianças sofrerem muito. Todo mundo ficou ainda mais perdido e aí eu decidi que teria que ser forte para que eles tivessem força para me ajudar.

RENASCER É PRECISO
Eu tirei foto de tudo e depois quero montar um álbum porque foi o meu maior momento de superação, quando eu tive que transformar minha vida. Quando soube que estava com câncer eu deixei de me preocupar com os outros e decidi cuidar de mim, que era o meu momento. Deixei de me preocupar com fofoca, com trabalho e me voltei para minha saúde, para minha qualidade de vida. Eu entendi que era o momento de eu me tornar uma pessoa melhor em todos os sentidos.

FAÇA HOJE!
Agora é o momento de eu dar atenção para as crianças, para o meu namorado, planejar as coisas daqui para a frente de uma maneira melhor. E é o que sempre digo para todo mundo, não espere para fazer as coisas amanhã. Quer viajar, vai viajar! A gente nunca sabe o dia de amanhã.

OLHAR PARA OS OUTROS
O que me levou a procurar o Instituto Humsol foi essa minha motivação a ser uma pessoa melhor. Eu queria contribuir de alguma forma e procurei uma instituição na qual pudesse me doar, mas também melhorar a vida de alguém. Eu queria repassar a minha experiência, dar minha palavra de carinho e fazer a diferença na vida de alguém. Na hora em que você começa a ver as outras realidades você percebe que tem gente que sofre muito mais e começa a dar graças a Deus que tem uma família, que está cercada de carinho.

AS GRANDES COISAS
Conheci uma menina que o namorado acompanhou a cirurgia e, na quimio, quando começou a cair o cabelo dela, ele a largou porque não aguentou vê-la sem cabelo. E aí eu olhava para o meu namorado que me acompanhou desde o início. E passei a dar muito mais valor às pequenas coisas, que na verdade são as maiores, mas aquelas que a gente não enxerga todos os dias.

MEXA-SE!
Não deixe de fazer os exames, são eles que podem garantir maior chance de cura se você detectar no início. Eu, por exemplo, tenho mais de 95% de chance de cura. As mulheres não fazem porque têm o conceito de que a mamografia é um procedimento que dói. É claro que é incômodo, mas é muito melhor fazer esse exame de cinco minutos que te protege para uma vida inteira.

AUTOESTIMA
Quem tem câncer precisa ter fé, pois sem fé a gente não vai a lugar nenhum, e é preciso se redescobrir como mulher. Quando você se olha no espelho dá uma grande dúvida em saber qual roupa coloca porque o seu cabelo não está mais ali. E tem roupa que não fica legal sem cabelo! Aí é preciso saber como você vai combinar um brinco, um lenço, porque tudo chama mais atenção. Quando eu raspei o cabelo eu usei lenço umas duas ou três vezes, mas não me adaptei e resolvi assumir a carequinha. É difícil porque as pessoas ficam te olhando de forma diferente e ficam com receio até de sentar ao seu lado no ônibus.

CRÂNIO TORTO?!
O medo do câncer está ligado diretamente à quimioterapia e isso mexe direto com a autoestima. E mulher tem dessas coisas, não adianta. Quando eu descobri que ficaria sem cabelo, a minha grande preocupação era que eu achava que tinha o crânio torto e que ficaria muito feia. Quando eu falo todo mundo ri, mas a primeira coisa que eu perguntei para o meu namorado depois que ele raspou meu cabelo era se meu crânio era torto. Ele disse que não. “Não mesmo? Ufa!”.

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Meu pilar de sustentação. Foto: Fer Cesar

AMOR PARA RECOMEÇAR
O Ravel foi meu pilar de sustentação. Foi ele que me acompanhou em todos os momentos, todos os procedimentos, acreditando, sofrendo junto. Essa parceria dele, esse comprometimento foi muito importante, porque quando você passa por uma situação como essa você precisa de alguém que te coloque para cima. Conto isso não para dizer que a minha história é incrível, mas para que as pessoas percebam a sua importância em apoiar alguém que passa por uma situação difícil.