Você conhece Karoline dos Santos Oliveira? E a Karol Conká? Em um primeiro momento, quem a vê enxerga apenas uma menina estilosa e serelepe. Para descobrir sua essência é preciso ouvir suas músicas, aí sim descobrirá que além de estilo, Karol é uma mulher guerreira, inteligente e talentosa. A moça já abriu um show do cantor Criolo, direto da capital carioca no Circo Voador, dividiu palco com Marcelo D2 e o rapper Emicida, e de quebra gravou uma música inédita com a lenda da MPB Luiz Melodia. Hoje ela está colhendo os frutos do seu talento e esforço. Acabou de lançar seu mais recente trabalho Batuk Freak (2013, Vice). Sem frescuras, entrevistei-a em uma mesa de lanchonete, em pleno centro da cidade, comendo sanduíche de linguiça e tomando suco de coco. Tudo em um bate-papo superdescontraído! O menu roots foi sugestão de Drica Lara, sua tutora e produtora (a FaDrica, como Karol carinhosamente a chama, relacionando a amiga e empresária como a sua fada madrinha). Quem vê a artista na ativa ou em seus
videoclipes nem imagina os perrengues que já enfrentou, como o preconceito e a perda do pai. Nos palcos ou nos estúdios, Karol transborda
alegria e tem isso como lema de vida. Será um dos segredos do sucesso dessa jovem de 27 anos? Confira todo o suingue de Conká!

Como foi a sua infância?
Eu sou de uma família pequena. Meu pai já é falecido, morreu vítima do alcoolismo quando eu tinha 14 anos. Eu vivi a minha infância inteira com
esse conflito, de ter um pai alcoólatra e uma mãe batalhadora. Na época, o meu irmão ainda tinha leucemia. O momento mais pancada da minha
vida foi quando eu perdi meu pai, afinal ele era o meu herói e também eu não sabia como lidar com aquela situação. A pior lembrança que eu tenho
da infância é o preconceito que eu sofria por ser negra e por ter um pai alcoólatra. Isso não me afetou, talvez na época sim, mas hoje é uma coisa que guardo para mim. Eu sou muito alegre e cômica, tem gente que pergunta se eu sou assim na vida real mesmo, mas isso é uma característica minha.

E de onde vem esse seu lado divertido?
Quando tinha alguma coisa triste acontecendo na minha família, eu tentava reverter aquilo para o lado bom. A minha família inteira é cômica. Acho que herdei isso deles. Eu sempre fui muito hiperativa, gostava de brincar, de me exibir e de chamar a atenção. Eu cantava para os meus ursinhos de pelúcia e chamava as crianças do condomínio para me assistirem. Gostava também de imitar as pessoas, na verdade até hoje eu faço isso. Eu pego os trejeitos de alguém e pronto, já imito. Tanto é que, por conta dessa facilidade de interpretação, fui convidada para fazer um filme, que acabei de rodar.

Como o teu filho surgiu na sua vida?
Foi fruto de um namoro de adolescência. Na época eu tinha 19 anos e queria morrer (risos). Quase matei a minha mãe quando contei. Me
sentia muito ridícula por ter engravidado, sabe? Eu sempre fui muito bem orientada, a minha mãe me deu uma educação muito boa. Mas, por mais que eu tenha chegado com essa bomba em casa, toda a minha família me apoiou. Depois disso, eu vivi a segunda dor da minha vida: o conflito de ter um filho e querer ser artista. Eu me questionava: Como ter um filho e cantar rap em Curitiba? Fiquei uns dois anos afastada da música, só em casa, cuidando do meu filho. Hoje ele está com sete anos, eu tenho um relacionamento bem bacana com o pai dele e a minha mãe e a mãe dele me ajudam muito.

Que lição você tirou dessa experiência?
Eu tive uma grande perda na minha vida, que foi a morte do meu pai. Quando eu engravidei do Jorge, eu achei que estava perdendo mais alguma coisa, principalmente a minha liberdade. Mas eu percebi que eu só ganhei. Ganhei responsabilidade, maturidade e . O Jorge me dá coragem pra tudo!

Quando você realmente começou a acreditar na sua carreira?
Foi quando a Drica apareceu na minha vida. Nos conhecemos há sete anos, mas estamos na estrada há dois. A Drica me deu um banho de autoestima. Na época, comecei a estudar os estilos que estavam rolando no Brasil e percebi que realmente o estilo que eu faço faltava. Hoje nós temos várias meninas do rap que estão bombando, mas o meu estilo é único, e isso eu posso dizer de boca cheia.

E qual é o seu estilo?
É um estilo freak, alegre e fora do normal. Muita gente acha que o meu rap não é debate, que não fala sobre debate. Na verdade, ele traz a
minha personalidade. Eu faço rap, mas da minha maneira. Além de ter as batidas mais voltadas para o eletrônico e mais dançantes. Eu vinha com
outros temas que não eram tão abordados no rap, mas, sim, no funk, que é sobre festa, sobre namorar, sobre as amigas, sobre como você se sente em uma situação ou como você se porta em outra. Geralmente, o rap nasce do meio para o eu, se eu vivo um problema de vida, onde eu moro, o que acontece comigo, então o meio faz o rap, entende? No meu caso, é o indivíduo que faz o meio, eu falo do que eu vivo. É meio o inverso. Mas o disco está tão cheio de conteúdo que é difícil de explicar.

Qual a mensagem que você tenta passar com as suas canções?
Liberdade. Liberdade mental em primeiro lugar. Se a pessoa se liberta mentalmente, ela atinge o que ela quer. A minha vida inteira eu
quis o que eu estou vivendo e eu acredito muito na força do pensamento, então eu transmito muito isso nas minhas músicas. Eu tenho essa
coisa de autoestima, eu gosto que a pessoa ouça a minha música e sinta uma coisa boa. O poeta precisa falar o que os outros gostariam
de falar também, por isso eu me inspiro no cotidiano da vida das pessoas e da minha.