Em tempos de virgindades leiloadas, cirurgias reconstrutoras de hímens e 50 tons de cinza, a sexualidade feminina ainda permanece misteriosa. É fato que a identidade social da mulher mudou. Desde a revolução feminista muito se fala sobre a independência econômica da mulher, desobrigatoriedade da maternidade, acessibilidade ao divórcio, despenalização do adultério. Todas essas mudanças na cultura atual nos remetem a uma sexualidade mais livre, embora não nos prive do sofrimento amoroso. Um exemplo recente acerca disso é o caso da brasileira de Santa Catarina, participante de um reality show australiano no qual leiloa a sua virgindade. Esse episódio bem demonstra a queda do ideal feminino de romantismo. Se até pouco tempo atrás a virgindade era algo precioso destinada a um homem especial, hoje em dia ela pode vir a ser comercializável. Sabemos que é muito comum que as mulheres se frustrem nas primeiras relações sexuais.

Nos discursos das mulheres, nas ruas e nas redes sociais, algumas se horrorizam com a atitude da jovem, mas muitas apoiam a moça, dizendo que se ainda tivessem a preciosa membrana, a venderiam também. Ouvi falar até em “recauchutagem”, visto que sabemos que hoje é possível a reconstrução do hímen. (Sim, eu li isso no twitter) Outro assunto polêmico é o livro “50 tons de cinza”. (da inglesa E.L. James). Enquanto alguns dizem que se trata de uma obra libertária, por assumir o desejo sexual feminino, outros dizem que é “pornô de mamãe”. O fato é que se trata de um livro escrito por uma mulher e lido por mulheres. Portanto, bem ou mal, é à sexualidade feminina que ele se refere.

Confesso que não li o livro, mas tenho escutado pessoas falarem dele em todos os lugares, o que me leva a pensar que, independente da qualidade da obra, de alguma forma ela toca as pessoas, ao falar das fantasias de submissão sexual femininas. Em ambos os casos (tanto da virgem quanto da personagem do livro), podemos pensar que são casos de mulheres que se colocam como objetos sexuais, com ou sem amor. Isso pode soar pejorativo dito dessa forma, pois o sofrimento das mulheres advém, em grande parte, da tentativa de serem reconhecidas pelo que são, e não como objeto sexual. “Estou cansada de ser vista como um pedaço de carne”, dizem muitas. Querem ser reconhecidas pela inteligência e não pelo corpo, pela beleza da alma, e não pela sinuosidade das curvas. Porém, o que estamos vendo com cada vez mais frequência hoje é que as mulheres têm aprendido a usufruir do corpo feminino que lhes pertence. Mas e o amor? Ah, o amor é outra coisa…

Ana Suy Sesarino Kuss é psicanalista e professora universitária.