Empresas são pessoas. Na essência, empresas são sempre pessoas. Por trás das estruturas, das tecnologias e sistemas, são feitas de pessoas. Passamos a infância e a juventude sendo preparados pela escola tradicional para trabalhar em uma organização – seja ela pública ou privada. Por mais que isso talvez seja o grande equívoco do sistema educacional – principalmente em tempos atuais – fomos educados literalmente para absorver o máximo de conteúdo e ferramentas para poder aplicá-los com eficiência nas empresas e no mercado de trabalho.

Há muitas gerações, seres humanos tem sido treinados para dois momentos bem claros da vida: um primeiro momento de estudo para acumular informação e conhecimento e outro de trabalho onde temos que aplicar as habilidades que acumulamos para sobreviver e contribuir com o mundo. Momentos fragmentados que, por um período, quando a manufatura, a linha de produção e a lenta mudança de cenários prevaleciam, até se mostravam suficientes. Suficientes do ponto de vista produtivo, mas muito pouco do ponto de vista de desenvolvimento pessoal, e que portanto não fazem mais nenhum sentido em tempos atuais.

Se fomos educados tantos anos a reproduzir conhecimento e especialidades dentro das organizações, também fomos treinados a replicar velhos padrões e conceitos que atualmente não se mostram mais eficazes como antes, e pior: tem sido uma pedra enorme no sapato das pessoas jurídicas – as empresas – que desejam e precisam inovar. E não inovam por uma razão simples e por vezes negligenciada: seus seres humanos não foram educados para se adaptar, mudar, criar, se arriscar e inovar.

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Inovar sem grandes investimentos é perfeitamente possível. Afinal, inovação não depende apenas de dinheiro, tecnologia ou complexos planejamentos. Mas inovar sem investir em pessoas é muito mais complicado. Inovação depende essencialmente de nós – seres humanos. Investir em pessoas não se resume a capacitá-las para fora, mas essencialmente educá-las para o autoconhecimento. Para que possam identificar seus talentos e desenvolvê-los com confiança e autonomia. Não aliás, seria esse o verdadeiro propósito de uma Escola?

Enfim, mas e as empresas? Empresas que educam e estão dispostas a serem educadas e reeducadas estão mais próximas da mudança e do novo. Entretanto, num mundo corporativo extremamente veloz, competitivo e instável, não basta educar. Se escolas em todo mundo carecem de uma revolução completa e emergencial nos sistemas de ensino para que possam acompanhar o giro do mundo e dar vazão às jovens inteligências que lá estão, as empresas também precisam revolucionar sua educação interna e permitir questionar até suas convicções. Perceber que não basta ensinar o mais do mesmo e, principalmente, mostrar que a empresa está disposta a também aprender com as pessoas que lá estão.

Investir na educação de seus talentos e fazê-los florescer numa era exponencial pode ser a medida mais segura e eficaz não apenas para a inovação, mas principalmente para se construir cultura de inovação. E cultura, cara-pálida, depende de educação, educação e educação de pessoas. Empresas mal educadas são aquelas que temem desenvolver inteligências por temerem ameaças de hierarquia. Pensam que educar é apostar em ferramentas e não em pessoas. Insistem na autoridade como poder centralizador e não para inspirar e estimular autonomia. Adoram manter fatores limitantes de talentos para preservar o status quo e insistir no que lhe é mais confortável. São avessas a riscos e mudanças. Assim como nós quando envelhecemos e ficamos cada vez mais avessos a mudar e se arriscar. Já percebeu isso?

Se hoje resistirmos às mudanças e riscos perdemos relevância, assim como as organizações. Empresas bem educadas são aquelas que educam para criar novas culturas e comportamentos. Cultura de experimentação, de mudança, de curiosidade, de criatividade. Que investem em liderança como habilidade não apenas aos líderes nomeados, mas a todos para estimular atitude. Empresas bem educadas valorizam habilidades humanas, talentos e assumem riscos junto com as pessoas. Dão autonomia com responsabilidade e extraem o melhor de cada um. Afinal, por que as empresas contratam pessoas se não for para que contribuam com o que elas são na essência e tudo que podem criar e realizar?

Educação corporativa nunca foi tão necessária, em tempos mutantes como estes. Se o mundo clama por uma revolução dos sistemas educacionais vigentes, o mundo do trabalho carece de uma completa reinvenção do que significa educação profissional. Empresas e profissionais precisam investir em um novo modelo de educação. Educação de longo prazo, por toda vida, termo conhecido hoje por life long learning, que deve fazer parte das pessoas de todos os perfis e habilidades, substituindo o velho modelo fragmentado de educação + trabalho para educação e trabalho – de forma concomitante e ininterrupta, pois a única certeza de futuro é a mudança o tempo todo.

Precisamos de uma educação que seja capaz de inspirar, desequilibrar, provocar, instigar, aprender, desaprender e reaprender continuamente por toda a vida. Que começa pelo básico, o auto-conhecimento, descobrindo quem somos, onde somos melhores e como podemos impactar pessoas, negócios e o mundo verdadeiramente. Quem sou eu? O que posso realizar de forma única? Difícil resposta para uma pergunta chave para pessoas e organizações.

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JEAN SIGEL

Pai de duas meninas – a Giulia e a Nana -, empreendedor por natureza e escritor em evolução. É também especialista em projetos de criatividade empresarial, comunicação e marketing e co-fundador da Escola de Criatividade, organização especializada em consultoria, projetos e educação corporativa em criatividade de negócios. Jean escreve todas as quintas sobre negócios e inovação aqui na VIVER Curitiba.

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