André Mendes lança exposição no MON e fala sobre como a arte pode ser fundamental para nos permitir viver melhor. Uma vida conectada com a essência e capaz de nos levar a novos lugares e dimensões
Ele é múltiplo. Um artista que não cansa de desafiar os limites da criatividade, da forma e do espaço. Na exposição Lados Lados, em exibição no Museu Oscar Niemeyer, o curitibano André Mendes apresenta desenho, pintura, escultura, instalações, mural, além de uma obra digital como um cartão de visitas de uma exploração que já passa dos 22 anos.
Na abertura da exposição, a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika reafirmou a importância da mostra que traz ao museu novas linguagens enquanto apresenta o trabalho de um curitibano que já foi destaque em Portugal, França, Inglaterra, Tailândia e Malásia. “Ao realizar uma exposição de André Mendes, o Museu evidencia a trajetória desse artista que, em duas décadas de trabalho, ganhou o mundo”, comenta.
André Mendes recebeu a equipe da VIVER no Museu Oscar Niemeyer e falou sobre o poder da arte não apenas como linguagem, mas principalmente como uma chave para desbloquear os sentimentos, tirar a gravidade que nos oprime e nos ajudar a viver melhor.
Para onde a arte é capaz de nos transportar?
A arte salva, a arte liberta. São frases marcantes que eu também compartilho e acredito que a arte pode não só libertar nossa mente, mas também o corpo e o espírito. Quando somos impactados pela arte, quando nos abrimos para ela e queremos pertencer ou participar daquela situação que está acontecendo (seja em uma exposição ou uma obra específica) ali se abre uma janela para essa essência da vida. A nossa janela para o sentir a vida de verdade, para estar respirando de verdade.
Por que é tão difícil nos conectarmos com essa essência?
O nosso universo tridimensional, o nosso dia a dia nos distrai da essência de tudo.
A gente tem que cada vez mais exercitar essa abertura, exercitar esse olhar, exercitar a sensibilidade para estar mais conectado e cada vez mais aberto a essas experiências que a vida nos proporciona. Não só a arte mas também a natureza, os amigos, o amor, enfim. Tudo o que tem de mais importante para mim como essência da vida, eu acho que são esses elementos que trazem esse impulso para a gente, essa vontade de seguir adiante.
Talvez as crianças possam nos ensinar a ser assim…
Picasso dizia que quando ele desenhasse como uma criança, ele estaria feliz. Acho que na arte é assim. Se a gente conseguir a espontaneidade e realmente atingir essa essência, tirando todas as camadas de julgamento, conseguimos produzir algo muito interessante. Mas também é uma combinação de experiência com essa possibilidade de se divertir com o que está fazendo, ter alegria, ter essa faísca que te dá um sorriso, um sentido, uma tristeza também, estar aberto e aprender a se abrir para todos os sentimentos.
Daí a ideia de brincar com a gravidade zero, de viver sem peso. Como você acha isso possível?
No momento que a gente aprende a estar aberto a todos os sentimentos e realmente lidar com eles sem barreiras, sem recalques, eu acho que a gente vai ser mais feliz, vai tirar um proveito maior das experiências da vida. Enfim, eu tento resgatar um pouco disso a cada dia, tenho uma ligação do meu trabalho com a arte e a educação muito forte, que eu acho que é muito importante, alimenta muito tudo o que faço.
Qual a relação da mostra com as mulheres da sua vida?
Eu trouxe alguns elementos, algumas pinturas e esculturas para essa exposição que remetem diretamente a uma energia feminina como algo sagrado, como uma pulsão da essência da vida, como a criação da vida. É uma das formas que eu vejo isso, a nossa energia de criação ser uma energia feminina, criativa, sensível. Sou pai de duas meninas, sou casado com a Priscyla, que é o amor da minha vida, e a gente teve essa experiência muito forte que foi ter duas filhas. Eu pude acompanhar muito de perto esse processo, tanto de gestação quanto do parto, tanto da Celeste quanto da Alice, e o parto da Alice em casa. Foi uma experiência muito linda na minha vida e que marcou muito.
E nada melhor do que, e claro além delas, também a energia e todo agradecimento à minha mãe né? Ela e meu pai, que também são pessoas fundamentais nessa história, nessa trajetória, que desde sempre me nutriram com cultura, conversa, amor e isso sem dúvida é o motor.
MON é seu quintal de casa também né? Qual a emoção de expor aqui?
Eu vou contar aqui uma intimidade, mas na manhã antes de abrir a exposição me fizeram essa pergunta e eu fiquei uns cinco minutos sem conseguir falar porque trancou a minha garganta de emoção. Agora estou mais treinado, já botei esse choro para fora, choro de alegria, emoção, mas eu fiquei muito emocionado. É incrível estar em um espaço consagrado como o Museu Oscar Niemeyer, que é mais um berço que acolhe tanto Leonardo Da Vinci, como OsGemeos. Tanto esculturas de 2500 anos atrás como a arte contemporânea. Então esse espaço tem essas características futuristas na sua arquitetura, mas além disso ele traz a história da arte e o momento em que estamos nessa escrita da história da arte. Então eu fico muito feliz, muito honrado de poder mostrar o meu trabalho aqui e participar dessa história.
É uma realização coletiva?
Com certeza. Eu estava transbordando um sentimento de realização, alegria e coletividade, porque muitas pessoas participaram desse processo para eu chegar até aqui. Não só a produção, mas familiares, colegas de trabalho, galerias, todas as pessoas que já deram uma oportunidade para eu mostrar o meu trabalho. Eu não cheguei aqui sozinho. Isso é um trabalho em conjunto, coletivo. E talvez por esse motivo é o que mais me emociona. Eu vejo que a gente pode ir mais longe se a gente for junto.