Quais são as diferenças na forma que as mulheres conduzem seus negócios e o que elas têm a ensinar?

POR LUIS CARNEIRO

Abrir e manter um negócio lucrativo está longe de ser algo fácil. É um exercício eterno de flexibilidade, reinvenção, persistência e muito trabalho. A boa notícia é que cresce a presença das mulheres à frente de iniciativas empreendedoras no Brasil. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneuship Monitor, praticamente metade dos empresários no Brasil (49,3%) são do sexo feminino. Esse número vem crescendo de maneira constante e nos apresenta um novo momento, de um universo conduzido por
mulheres, com suas características únicas, trazendo um olhar diferente para os negócios. Conversamos com algumas empresárias curitibanas para conhecer um pouco dos seus desafios e de como elas ativam seus superpoderes para crescer e causar impacto por onde passam. Descobrimos que um dos maiores diferenciais do empreendedorismo feminino é que além da paixão pelo negócio, elas descobrem muito rápido que seu legado em ajudar o crescimento de outras pessoas e famílias por meio do seu empreendimento é maior do que quaisquer dificuldades e jornadas duplas que precisam enfrentar diariamente. Além disso, elas possuem uma tendência de conseguir atuar em várias frentes de forma versátil com muita desenvoltura. Essa característica é determinante para o sucesso nos novos tempos, onde cada vez mais será preciso reaprender sobre o mercado e o próprio negócio para manter-se competitivo no mercado. Esses olhares múltiplos, que conseguem mapear várias possibilidades, são fundamentais para que elas possam perceber, alinhar expectativas e conectar-se emocionalmente às pessoas. Em um cenário onde lidar com fornecedores, clientes e funcionários requer linguagem e estratégias específicas, a conexão emocional é fator determinante para criar laços de confiança.

Suba um degrau por dia

Uma mulher foi a principal incentivadora para que Syonara Thomé ingressasse no masculino mundo da engenharia. Sua mãe, Dona Jucelia, destacou seu talento
para os números e importância que ela investisse todas as forças na sua independência financeira. Hoje, a empresária comanda a Greenwood, uma das mais importantes construtoras de alto padrão do Sul do Brasil, e é responsável por gerenciar os inúmeros sistemas que envolvem seu segmento. Das inúmeras lições que ela apresentou nessa entrevista, talvez a melhor seja a de que foco e constância podem fazer toda a diferença. “A vida é uma série de degraus e é preciso subir um todo dia”, ensina.

COMO TUDO COMEÇOU?
Há 24 anos com um terreno que eu tinha em sociedade com uma outra pessoa, no qual a ideia era construir um condomínio fechado. Nesse momento eu percebi que não havia uma construtora especializada em residências de alto padrão e pensei em colocar meu olhar feminino, com um capricho maior e uma organização melhor. Eu lembro que os
mestres de obra estranharam o fato de uma mulher estar comandando a construtora e atenta para questões pequenas como a limpeza e organização.

O QUE FOI FUNDAMENTAL PARA O CRESCIMENTO DA EMPRESA?
Acima de tudo, muito trabalho. A empresa tomou um porte interessante, trabalhamos com alguns dos melhores arquitetos do país, mas ainda hoje minha rotina é a mesma.
Hoje empresa está madura, somos dez engenheiros e temos uma equipe técnica considerável, atuando no Paraná e em Santa Catarina, mas continuamos com a mesma obsessão pelos detalhes. Temos protocolo para tudo, desenvolvemos muitas técnicas próprias e isso faz toda a diferença. Além disso, ainda há o nosso olhar crítico, detalhista, conferindo cada rejunte, cada esquadro.

O FATO DA EMPRESA TER UMA MULHER À FRENTE AJUDOU?

Sim, quando o casal me vê à frente do projeto acredita que a obra vai ser mais bem acabada, mais bem cuidada. E acredito muito nesse diferencial, porque as mulheres conseguem ter uma visão 360 graus, administrando mil coisas ao mesmo tempo e com qualidade.

COMO ESTÁ O MOMENTO DO SEU MERCADO?

Apesar de ser um momento delicado, que comprometeu nossa saúde e nossa liberdade, a pandemia levou as pessoas a buscarem casas. Muita gente foi em busca de um jardim, do ar livre, de qualidade de vida.

QUAL A CASA IDEAL?
Acho que morar numa casa ao ar livre é o maior luxo que uma pessoa pode se dar. Sem dúvida ela precisa ter o que o cliente gosta, ter sua cara. Acredito que o conforto da casa hoje é ter uma casa integrada com a natureza, gostosa de viver.

A GENTE SABE QUE TODAS AS PESSOAS SÃO RESULTADOS DOS SEUS HÁBITOS. QUAL A SUA ROTINA?

Cada vez mais eu busco qualidade de vida, mas amo o que faço. Então, estar no escritório e nas obras me faz bem, me dá saúde. Mas basicamente eu acordo em torno das seis horas da manhã. Gosto de tomar café da manhã demorado e por isso às 6h30 já
estou na mesa, me conectando para estar a mil dali para a frente. Sempre começo a maioria dos dias fiscalizando todas as obras e não abro mão de almoçar em casa.
Reservo a tarde para o escritório e reuniões e à noite gosto muito de cozinhar.

VOCÊ CONSTRUIU RECENTEMENTE UMA NOVA CASA. COMO FOI A EXPERIÊNCIA?

As pessoas chegam na construtora com muitas expectativas para viver com mais qualidade de vida e eu também tinha esse sonho de morar em uma casa integrada com um jardim. Quando eu planejei essa casa estava pensando em tudo isso. Foi um projeto desafiador, com muito estudo, muitas tecnologias diferenciadas, mas o principal objetivo era ter uma casa gostosa para conviver com a família e receber os amigos.
Acredito que a gente tem que se dar de presente esse bem-estar e essa é a minha paixão do momento.

SE FOSSE DAR UM CONSELHO PARA A SYONARA DO INÍCIO DA CARREIRA, QUAL SERIA?
É o que digo para os meus filhos. Eu começaria ainda mais cedo. Eu estudaria mais. Acho que quanto antes você começa e foca na vida, mais garra você tem e mais certo vai dar. Quanto mais novo, mais energia e mais ideias você tem e absorve mais conhecimento. A sorte ajuda, mas é preciso de muito trabalho e você precisa estar muito focado para se reinventar todos os dias. Constância também é fundamental. A vida é uma série de degraus, só que todo dia você precisa subir um.