Acho que antes de mais nada é importante situar a minha vida: sou mãe da Maria Augusta, de 10 anos, e da Rebeca, de 9 anos. Empresária, diretora de criação da marca NovoLouvre e supervisora do curso de moda do Centro Europeu. Sou bastante ocupada e amo isso. Apesar de ser brega hoje em dia, sou uma workaholic assumida! Minha família e meu trabalho são o que mais gosto na vida.
Me encontrar em quarentena foi um caos. Todo o planejamento da empresa ruiu, todas as aulas do curso que supervisiono passaram a ser on-line e eu passei a acompanhar todas elas, respondendo aos anseios de todos os alunos e professores; meu marido médico está em locais de risco todos os dias, nossa renda caiu pela metade e, no meio de tudo isso, estamos eu e as meninas em casa o tempo todo.
Não sei como nem porquê algo de certo eu fiz pois elas pouco sentiram o impacto. Rebeca sente muito a falta dos amigos, pois é muito sociável, já Maria Augusta parece feita para a quarentena, não podia estar mais feliz. Enquanto uma se arruma, com look do dia e penteados, a outra não tira o pijama – e está muito feliz com isso.
Por outro lado carrego uma culpa enorme. Junto com essa pandemia veio a experiência do homeschooling e eu, com duas crianças, dando aula todas as manhãs, não consigo acompanhar como deveria. Sinto uma culpa imensa, somente acalmada pelo bom desempenho das meninas (aqui o orgulho de mãe que sempre priorizou a vida acadêmica delas quase explode)! Elas têm aulas ao vivo alguns dias de manhã, quando encontrariam com as professoras e colegas, mas como eu estou dando aula nesses horários elas não conseguem acompanhar. Criei então um esquema com o que consigo fazer e tentei acalmar o coração.
Por outro lado, apesar da angústia das incertezas e das notícias ruins, passar o tempo todo com elas, sem tantos horários e compromissos, tem sido maravilhoso. Tento fazer o exercício de olhar para isso: sei do privilégio que tenho de passar por esse momento em segurança com a minha família. O fato de ser vizinha de minha irmã e conviver com ela, meu cunhado e meus sobrinhos tem sido um alívio para mim e para as meninas, pois não ficamos tão isolados e elas têm com quem brincar – e brigar!
A única certeza que tenho no meio de tantas dúvidas é que estou passando essa quarentena com quem eu realmente gostaria. Esse é um ótimo teste para saber se você construiu a família que deveria ter construído – nesse teste nós passamos!
Por Mariah Salomão Viana