Há dois anos passei por uma experiência transformadora na Suécia, junto com um grupo de trinta pessoas de quinze países diferentes que trabalham com inovação e criatividade. Em uma jornada de aprendizagem colaborativa intensa na Hyper Island – escola de inovação com sede em Estocolmo, percebemos juntos que a construção de possibilidades a partir de vários cenários e opções geradas pela exploração de habilidades humanas é o caminho ou a verdadeira “fórmula” para uma cultura de inovação.
Explico: quantas empresas de sucesso você já viu naufragar? E o que aconteceu? Como promessas espetaculares puderam se transformar em desastres monumentais? Teria sido incompetência? Teria sido corrupção? Falha de gerência ou simplesmente a falha de gestão de pessoas?
A nova cultura de inovação, carregada aos poucos por empresas tradicionais e muito rápida por empresas disruptivas, como startups, traz à tona uma exigência: ferramentas ou processos para novo trabalhos. Mas, o que a gerência tem falhado cada vez mais é em não acreditar no desenvolvimento humano. Na inovação, as pessoas não estão sempre tentando provar que são melhores do que os demais, ao menos em se método verdadeiro. Elas não consideram que a hierarquia correta comece com eles próprios (líderes), no topo, não reivindicam crédito pelas contribuições de outras pessoas, nem prejudicam os demais a fim de parecerem poderosos. No sistema honesto de inovação, o trabalho é com pessoas e coletivo.
O curso que participei, Process Design and Facilitation, trouxe aprendizagem coletiva na prática sobre design e facilitação de processos, aproveitando a inteligência coletiva de organizações. Trabalhando com habilidades humanas e facilitadores. Sim! Eles não se consideram professores, são facilitadores, pois, segundo o mantra e marca da Escola, “não é somente ensinar, é você passar por um processo de aprendizagem, junto e, essencialmente aprender a aprender, e aprender a desaprender”. Com isso, as pessoas à frente do ensinamento, não jogam fórmulas para resolução e sim, facilitam o processo de criação e cocriação. Facilitando grupos e desenvolvendo habilidades.
É justamente aí que as empresas não são tão inovadoras: querem cultura de inovação, mas pouco dão credibilidade, confiança e autonomia de criação. Assim, as pessoas estão sempre esperando o comando ‘me diga o que fazer’, sem possibilidade de desenvolverem suas habilidades e imaginação.
Com um público muito consistente e crítico, pessoas do mundo inteiro, experientes na questão de inovação de várias áreas em suas empresas – o mais interessante do que ver processos, foi ver os muitos participantes, com bastante dificuldade de sair daquele modelo mental em liderar da maneira tradicional com ferramentas prontas, para ir além do líder e se tornar um facilitador de pessoas.
Para muitos, foi mais difícil do que se esperava! Porque lá, não se ensinava nada e não se passava ferramentas, era um estímulo de criar por conta própria, prático, para que os grupos resolvessem situações e criassem processos novos de como se facilita com pessoas e como na prática, você extrai o melhor de cada um. Todos esperavam ansiosamente por métodos e ferramentas novas, mas o intuito era justamente não dar
receitas prontas e sim extrair receitas novas dos grupos.
Na essência de cada um, não somos os instrutores, são as pessoas que dizem o que elas querem e podem atingir. Pois, de nada adianta um bom consultor, um bom instrutor, se as pessoas não aceitam o novo e não se sentem parte do novo. É de dentro para fora. Precisamos ser facilitadores!
“É justamente aí que as empresas não são tão inovadoras: querem
cultura de inovação, mas pouco dão credibilidade, confiança e autonomia de criação”
O primeiro passo para fazer parte de um conceito inovador é abandonar a lógica herdada de sistemas gerenciais antigos. Aquela linear, centralizadora, especialista, desconectada, competitiva. Aquela que muitas vezes, baseia-se na exploração do mais fraco (do outro); que busca lucrar com os problemas e até cria problemas só para se
beneficiar. E começar a pensar que todos os processos são coletivos, estruturados por pensamentos e idéias compartilhadas por seres humanos. Celebramos exageradamente a competição nas salas de aulas, no mercado de trabalho, no esporte e achamos que a vida é e sempre será individual, com ferramentas e fórmulas únicas e, a grande questão, é que a cultura inovadora tem como ferramenta central as pessoas: pensando coletivamente e fazendo acontecer coletivamente, sem ter a expectativa que sempre haverá alguém para lhe dizer exatamente o que fazer a todo instante.
A inovação precisa de diversidade de ideias e novidade e, ninguém poderá contribuir tanto com isso quanto as pessoas que lá estão. As ideias e soluções geralmente já estão existem, basta facilita-las. Quando descobrimos que o trabalho inovador é colaborativo e depende apenas de pessoas, entramos no mundo de crescimento, tudo muda. Ilumina-se, expande-se de energia, de possibilidades. As pessoas não possuem certo grau de capacidade gerencial, as pessoas podem mudar substancialmente sua capacidade básica para dirigir outras pessoas ou entender que esse processo é coletivo. A grande ferramenta para a cultura de inovação é o nosso próprio cérebro.
“Celebramos exageradamente a competição nas salas de aulas, no mercado de trabalho, no esporte e achamos que a vida é e sempre será individual, com ferramentas e fórmulas únicas”
Pesquisas mostram que o cérebro se parece mais com um músculo: ele se modifica e se fortalece quando você o usa. Quando exercitamos ele como ferramenta, o cérebro forma novas conexões e “cresce” quando as pessoas praticam e aprendem coisas novas.
Valeu muito a pena ter ido lá, primeiro para validar na questão que a gente sempre pensou: nós devemos jogar o estímulo, mas o processo é a partir do que vem das pessoas. Segundo porque estávamos cercados de pessoas que trabalham com inovação em grandes setores de todos os cantos do mundo e mesmo assim, ver que muitas ainda estão presas a modelos mentais antigos, e que ficam esperando fórmulas mágicas, sem perceberem que não é sobre processos, é sobre pessoas. As pessoas são as ferramentas de mudança, de inovação, são os times, as equipes, a cocriação. As ferramentas surgem naturalmente com o trabalho coletivo, ou seja, no final das contas muitas pessoas saíram com ferramentas que nasceram de pessoas, inúmeras pessoas!
Apesar de algumas resistências em mudar modelos mentais tradicionais e a constante ansiedade de muitos em receber uma “aula” dos professores do curso, a maioria se engajou, se adaptou e criou coletivamente trabalhos sensacionais de facilitação de grupos. Foram forçados a criar suas próprias ferramentas aproveitando as habilidades
e experiência de cada um. Workshops e práticas como: “Como não aprender a ensinar”, “Como se abrir ao novo, sem medo de julgamento” e até “Como acender a paixão no que fazemos” foram exemplos do que saiu daquela sala. Trabalhos e projetos originais empolgantes para a produção.
Inovação como desenvolvimento humano: é possível!
Na Escola de Criatividade, o método de ensino baseia-se em 30 hábitos criativos para a Cultura Inovadora, que se conectam à medida que são estimulados e desbloqueados de forma individual e coletiva nas empresas. Cada hábito é estruturado, exercitado e aplicado de maneira que possa ser assimilado como prática criativa no dia a dia.
Divididos em: Exploração, que tem como premissa observar, entender e validar as necessidades; a Construção, que coloca a mão na massa, ideação e prática de possibilidades e conceitos e a Ação e Representação, que possibilita testes, protótipos e realização.
Com base nos conceitos que trabalhei no curso Hyper Island, criei um workshop novo, chamado Stories Around the Fire, (histórias ao redor do fogo) usando como base histórias que meu avô contava ao redor da fogueira. Isso, para mim, significava a importância de se comunicar verdadeiramente a partir de histórias e ambientes de confiança – partindo disso, o meu grupo foi desafiado a criar uma história em 40 minutos, utilizando a metáfora da fogueira e com poucos recursos no espaço – demonstrando e comprovando que o processo para a inovação é muito mais mhumanizado do que processualmente estruturado por fórmulas. Pois nós somos as fórmulas e ferramentas dessa nova cultura.
JEAN SIGEL
Pai de duas meninas, empreendedor por natureza e escritor em evolução. É também especialista em projetos de criatividade empresarial, comunicação e marketing e co-fundador da Escola de Criatividade, organização especializada em consultoria, projetos e educação corporativa em criatividade de negócios. Jean escreve todas as quintas sobre negócios e inovação aqui na VIVER Curitiba.
