A casa, que nos últimos tempos servia quase apenas como dormitório, foi resgatada. Retomou o status de refúgio. Nesses dias de isolamento pudemos viver cada um dos nossos espaços da forma mais intensa e insana que se podia imaginar. E isso nos mostrou que ela pode e deve ser mais. Um espaço acolhedor, que alimente a alma.
Para os arquitetos Renan Mutao e Ary Polis, do Studio Architetonika Nomad, nesse período, a casa foi o cenário para que conseguíssemos promover entre nós mesmos um momento de reconexão, deixando de viver de forma automática. “A crise, apesar de muito triste, também teve muitos pontos positivos: nos conectamos com a o nosso lar, com os nossos familiares e tivemos tempo para organizar nosso espaço”.
Muitas vezes a gente tende a minimizar o quanto a casa afeta o nosso bem-estar físico e psicológico. “A moradia é um refúgio para nossos estados mentais, dialoga com o morador, gera sensações que devem ser sempre positivas”, destacam os arquitetos Sergio Valiatti e Luciana Patrão. Nesses tempos confusos, precisamos olhar para dentro. De casa e de nós mesmos. Para a arquiteta Alessandra Gandolfi, depois de tanto tempo em casa, avaliando cada espaço, teremos que repensar nossos hábitos e o que realmente a gente precisa dentro de casa: o essencial! “A casa é para ser vivida, não serve apenas para atividades básicas como guardar coisas, tomar banho e dormir. O morar vai muito além disso”. Sonia Elias, proprietária da Ton Sur Ton, uma das principais lojas de decoração e mobiliário de Curitiba, concorda. “Depois dessa quarentena tenho certeza de que as pessoas vão buscar invistir em elementos decorativos e mobiliários que traduzam a sua essência, a sua personalidade. As casas vão ficar mais verdadeiras”.
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Sem dúvida, a pandemia nos trouxe algo de bom. A certeza de que nossa casa precisa acolher nossa personalidade e ser viva, verdadeiramente um refúgio da nossa saúde física e mental.
Reavaliamos a importância da convivência entre familiares e a arquitetura vai potencializar esta demanda com espaços mais integrados, práticos e essenciais. O mundo vai diminuir de tamanho e as novas tecnologias vão aproximar as pessoas, à distância e digitalmente. Vamos ficar mais em casa, deslocamentos desnecessários vão acabar e nossa relação com o entorno vai melhorar. A casa também vai deixar de ser consumidora para ser geradora de energia. Vamos dar mais importância ao contato com a natureza, biofilia, sustentabilidade. Assim, ambientes com a personalidade do morador vão ser mais valorizados.