Por Marcos Meier – educador, escritor e palestrante e apaixonado por encontrar em momentos tristes e alegres um ou vários motivos para ser feliz
Filhos o dia todo dentro de casa e você com mil coisas a fazer! Não é nada fácil. Voltar no tempo talvez ajude:
Na Grécia antiga o filósofo Parmênides escreveu um poema que afirmava ter o peso uma qualidade negativa enquanto a leveza, positiva. Nietsche discordou argumentando que justamente os “pesos” da vida é que trazem sentido a ela. Essa ideia existencialista Kundera utiliza em seu livro “A insustentável leveza do ser” quando nos apresenta suas personagens.
Voltando ao ano de 2020, essa grande pandemia é justamente o peso (insustentável leveza) que pode dar sentido às relações mais importantes da nossa vida: filhos, marido, esposa, pais. E para entender melhor, precisamos dar outro salto no tempo, dessa vez para o futuro: o ano de 2050. Sim, daqui a trinta anos seus filhos talvez tenham constituído uma nova família, e poderão ter uma conversa muito profunda sobre o passado, especificamente sobre a quarentena. Talvez seja algo assim:
– E aí filho, hoje sua mãe e eu falamos daquela quarentena que vivemos em 2020, lembra? Você tinha 10 anos.
– Lembro pai. Mas sempre que lembro me vêm uma tristeza enorme. Foi muito difícil para mim. Vocês gritavam comigo, exigiam que eu aprendesse por meio daqueles vídeos que a escola mandava e que eu não conseguia seguir, eu queria brincar de videogame e vocês se irritavam o tempo todo por eu estar sem fazer nada e o pior de tudo: vocês brigavam tanto que eu me escondia com medo de que o culpado da briga fosse eu.
– Meu Deus filho! Eu não sabia que tinha sido tão ruim para você!
E a conversa segue com confissões e pedidos de perdão.
Mas poderá ser totalmente diferente:
– Lembro sim! Foi sensacional. Lembro das nossas brincadeiras, do quanto a gente inventava coisas juntos e principalmente de ouvir vocês contando coisas da sua infância e me ensinando a fazer também. Guardo aquela quarentena no fundo do meu coração, apesar da dor de ter perdido pessoas próximas, vocês me acolhiam. Acho que nunca disse isso a vocês, então aí vai:
– Obrigado pai, obrigado mãe.