Por Luis Carneiro | Fotos: Pablo Contreras
Buenos Aires faz parte de um restrito clube de cidades especiais que ficam bem mais bacanas depois que você não precisa mais fazer a rota das atrações turísticas. Assim, como era nossa segunda vez por lá em família, deixamos de lado alguns ícones como o Caminito, Obelisco e show de tango para curtir uma cidade, digamos, menos turística. Para nos ajudar com esta missão, recorremos ao amigo e fotógrafo da VIVER, Pablo Contreras (insta: @fotoviajante). Ele nasceu em Buenos Aires e veio para o Brasil aos dez anos, e volta e meia desembarca por lá para visitar amigos e parentes.
Eu esperava uma lista de coisas a fazer e ele deu duas ou três dicas e como sabia que ficaríamos hospedados por quatro dias no bairro de Palermo, simplesmente disse: “caminhe por lá e você vai encontrar muita coisa legal”. Nossa viagem então se concentrou em revisitar alguns pontos que mais gostamos e literalmente nos perder por lá. E não é que deu certo?
ARTE E CULTURA
A gente já sabia que a Recoleta ia muito além do cemitério famoso. Mas o elegante bairro que começa (ou termina) nos jardins da Plaza Francia, tem tantas atrações que fica difícil conhecer em uma ou duas visitas. A começar pelo famoso Gomero, uma árvore centenária quase 10 metros de diâmetro de base, copa de 40 metros de altura e alguns de seus ramos passam de 30 metros, o que tornou necessária a colocação de apoios de ferro para sustentá-los. A praça em frente do complexo que integra o cemitério e a igreja de Nossa Senhora do Pilar recebe uma verdadeira festa aos domingos com uma feira de artesanato e inúmeros artistas se apresentando no extenso gramado. A poucos passos, o Centro Cultural Recoleta oferece espetáculos de música, dança e teatro, mostras de artes visuais, ciclos de cinema, além de cursos e oficinas em diversas áreas artísticas.
Dali, é só descer um lance de escadas para chegar ao Buenos Aires Design Center, um shopping temático, dedicado ao design, construção e decoração.
O Malba é uma superatração que proporciona um passeio pelos grandes nomes da arte do século XX da América Latina num só espaço: Tarsila com Frida Kahlo, Di Cavalcanti com Botero, Diego Rivera com Torres-García. Outra opção de primeira grandeza é o Museo de Bellas Artes, que apresenta mestres como Rembrandt, Modigliani, Gauguin, El Greco, Manet, Rubens, de Chirico, entre outros.
AO AR LIVRE

A faixa costeira ao norte do Centro de Buenos Aires é como o pulmão urbano da capital argentina. Vários parques, cada qual com sua personalidade, estão localizados entre a Recoleta e Palermo Viejo. Num dia fresco e ensolarado, como o que pegamos, dá para conhecer os parques na sequência.
No Parque 3 de Febrero (vulgo Bosques de Palermo) fica o Paseo Rosedal, logo depois, o Jardín Japonés é o mais curioso. Afinal, este é um pedacinho de Kyoto transplantado a Palermo, numa cidade que não tem tradição japonesa.

Os parques são uma boa dica de passeio matinal, já que as lojas e museus como o Malba não abrem antes do meio dia.
Dali fomos almoçar na Casa Cavia, mas um piquenique pelos bosques pode ser uma boa forma de unir três dos melhores aspectos de Buenos Aires ao mesmo tempo: os parques, as fiambrerias e as winehouses. Fica a dica.


PUERTO MADERO
Este é um lugar que sempre vale a pena voltar, especialmente aos finais de tarde. O poderoso projeto urbanístico que incorporou à cidade uma área de armazéns portuários decadente, hoje se estende por quase quatro quilômetros e reúne excelentes restaurantes e um belo calçadão à beira do canal.
O trecho mais atraente vai da altura da calle Tucumán até a avenida Belgrano: por ali está a maioria dos restaurantes, e também a bonita Puente de la Mujer. Vale a pena resistir à tentação turistona de visitar o Museu-Barco Fragata Presidente Sarmiento. Poupamos esse tempo para ficar admirando os modernos prédios construídos por ali enquanto degustávamos um delicioso helado de dulce de leche na Persicco, dica da fotógrafa Bruna Kamaroski.
PALERMO É UMA FESTA
Lembra do conselho do senõr Contreras? Sim, para amar Palermo bastam apenas duas quadras a partir da esquina entre as ruas Malabia e Costa Rica numa tarde qualquer. São tantos os bons cafés, lojas e restaurantes que a gente fica sem saber para onde olhar. É um misto de Vila Madalena com os bares do Baixo Augusta, para quem conhece São Paulo. Lembra um pouco Ipanema, no Rio. Mas na real, Palermo Soho e Palermo Hollywood têm muito mais a oferecer. Ela é rodeada por lojas de jovens designers, bares disputados e, aos finais de semana, ainda é palco para uma feirinha de artesanato que reúne gente de todas as partes do mundo.
Da nossa lista, faltaram dias para conhecer tantos parques, livrarias e gelaterias. O consolo é que a cidade nos deixou a impressão de que vamos gostar ainda mais das próximas vezes que voltarmos.
CASA CAVIA
A Casa Cavia é, por si só, um destino cultural completo, que inclui restaurante, editora, livraria e loja de flores. No elegante bairro de Palermo Chico, essa casa de 1929 foi totalmente remodelada pelo premiado escritório de arquitetura e design, Kallos Turin, sediado em Londres e San Francisco. A idealizadora é Guadalupe Garcia Mosqueda, que criou um novo conceito para oferecer o melhor de Buenos Aires, reunindo arquitetura, gastronomia, design, literatura e arte em um mesmo espaço.
Num dia de sol perfeito, nos sentamos no belo jardim para conferir os pratos do badalado chef Pablo Massey, que apresenta na Casa uma culinária com os vários sabores da cultura argentina, incluindo influências italianas, espanholas, francesas e árabes. O restaurante oferece café da manhã, almoço e jantar, além de um brunch completo aos domingos.
EL ATENEU

A El Ateneo Gran Splendid foi eleita pelo jornal britânico The Guardian como a segunda livraria mais bonita do mundo e vale muito a visita. Aberta onde um dia funcionou o Teatro Gran Splendid, construído em 1919, conta com mais de 120 mil livros. A cúpula central desta bela livraria mantém os frescos de estilo romântico originais do italiano Nazareno Orlandi, que comemoram o fim da Primeira Guerra Mundial. Os camarotes estão intactos e são equipados com cadeiras confortáveis que convidam os visitantes do salão a folhear as seleções de livros. Por sua vez, o palco do Splendid permanece envolto por cortinas e conta agora com um café bem bacana.