Sabe quando uma coisa puxa a outra e quando você vê descobre que está vivendo uma experiência única, conhecendo novos sabores, pessoas e lugares que nunca tinha pensado em conhecer? Foi assim com a gente no Uruguai. 

Nossa trip passou pela pequena cidade de Colônia do Sacramento e também pela famosinha Punta del Este. Mas nosso coração ficou mesmo em Montevidéu.

A capital é menor que Curitiba e mantém tradições como o inseparável mate. Onde quer que você vá vê alguém com o mate na mão e a onipresente garrafa térmica debaixo do braço. Para os curitibanos que têm calafrios em dividir o elevador, ver os uruguaios compartilhando o mate e saboreando uma conversa despretensiosa no shopping, na praia ou em pleno centro da cidade nos faz refletir que a convivência por aqui poderia ser um pouco melhor se houvesse uma cuia entre nós.

O básico de Montevidéu cabe num fim de semana. Mas se você quiser curtir um pouco mais e ir além dos pontos turísticos, tomar um café como um legítimo uruguaio ou caminhar pelas ramblas sem pressa, vale pensar em uns quatro dias. Assim dá para garantir umas esticadinhas até Punta del Este ou às vinícolas que ficam ali por perto, que eles chamam de bodegas. Vale a pena conhecer a Bodega Bouza, que fica a 30 quilômetros do centro.

Muito Estilo

Após fazermos uma entrevista com os designers Federico Senociaín e Sebástian Rial e com o diretor da Florense Carlos de Carvalho, Nelson Calcagnotto, caminhamos pela Ciudad Vieja, que conta com as principais atrações turísticas e o famoso Café Brasileiro, o mais antigo da cidade, fundado em 1877. Por lá, nada melhor que pedir o tradicional café cortado com medialunas.   

No centro está a Plaza Independencia, com o imponente Palácio Salvo, bem perto do Teatro Solis, um dos mais belos espaços culturais da América do Sul. Por lá assistimos à apresentação da Filarmônica de Montevidéu, mas se você não tiver a mesma sorte, faça ao menos a visita guiada.  A calle Sarandí é um calçadão que lembra muito a Rua XV. Ali dá pra conhecer o Museu Torres García e a Livraria Más Puro Verso, um local que não costuma ser citado nos roteiros tradicionais, mas que vale a pena visitar. É um verdadeiro achado para os amantes de livros, arquitetura e história em um edifício de 1917 em estilo “art nouveau” europeu.

Cultura Preservada

Sebástian e Federico nos levaram ao Palácio Taranco, antiga residência da família Ortiz de Taranco repleta de referências de arte e decoração. Declarado Monumento Histórico Nacional em 1975, atualmente o local sedia o Museu de Artes Decorativas de Montevidéu. 

Descendo as ruas e encontrando construções em todos os estilos, umas interessantes, outras decadentes, o caminho é o Mercado del Puerto. Ali há uma infinidade de parrillas com cortes para todos os gostos. Outra grande referência de Montevidéu é a Rambla, o calçadão com 22 quilômetros à beira do Rio da Prata que passa por nada menos que 10 praias. Através dele se pode passear a pé ou de bicicleta do centro histórico aos bairros nobres e mais afastados como Carrasco e Pocitos, onde o brasileiro Vinicius de Moraes morou enquanto serviu na embaixada brasileira em Montevidéu. 

A convite dos designers, fomos jantar no Bar Tabaré, no bairro de Punta Carretas, em uma casa de esquina cuja função original era também a de armazém. A conversa fluiu em torno das inspirações que os antigos armazéns ofereceram ao premiado projeto, mas também sobre futebol, economia e as diferenças e semelhanças entre brasileiros e uruguaios. O bar é uma excelente pedida. Nesse espaço centenário muita coisa foi conservada exatamente como no original. O mobiliário, o balcão e as estantes com objetos antigos remetem a lembranças da infância.

Punta del Este

Se você ficar em Montevidéu, pode fazer um bate-volta para conhecer os principais atrativos de Punta del Este, já que o famoso balneário fica a apenas 130 quilômetros da capital. Mas ao se hospedar por lá a experiência é outra. Você faz tudo no seu tempo, consegue conhecer bons restaurantes e se hospedar em um dos hotéis exclusivos que a cidade oferece.

Ficamos hospedados no Hotel L´Aubergue, um dos mais tradicionais da cidade, uma referência de charme e bom gosto desde 1948. Além da sua imponente torre que por si só o transforma uma atração turística, o hotel se renova ano após ano.  Fomos recebidos pelo diretor, Ignacio Carrera Chaquirian, que nos contou um pouco da história do hotel e destacou que o arquiteto que conduziu uma repaginação recente em alguns ambientes é brasileiro. 

Ambientes clássicos mas com um toque contemporâneo, compondo peças de design, obras de arte e itens de colecionador como a antiga máquina de escrever garantem uma atmosfera única. Isso sem falar no jardim com um amplo gramado e espaços de sobra para relaxar. Se hospedar por lá é viver uma experiência verdadeira de celebração ao estilo dolce far niente.

Os chalés, a torre e os espaços já fariam deste um destino incrível. Mas há mais de 70 anos o L´Aubergue recebe seus hóspedes e também o público externo todas as tardes no salão de chá com o tradicional waffle belga com calda de chocolate ou doce de leite.

Vale lembrar que o balneário mais badalado do Uruguai vai além dos carrões, iates e do cassino. Punta pode ser o destino de quem procura contemplar a natureza. Para isso, a primeira parada pode ser na Playa Brava, com o Monumento Los Dedos. Detalhe: ou você chega cedo ou vai precisar de muita sorte para conseguir uma boa foto com poucas pessoas ao redor, pois o local está sempre cheio de turistas.

O por do sol na Casapueblo é, sem dúvida, uma experiência inesquecível. Construída pelo artista uruguaio Carlos Paez Vilaró, a casa é uma das construções mais emblemáticas do país e mistura museu, hotel, restaurante e galeria de arte. Seu estilo lembra as construções do Mediterrâneo, como as casas da ilha grega de Santorini, mas o artista gostava de fazer referência às casas feitas por um pássaro chamado forneiro, que aqui no brasil conhecemos como joão-de-barro.

No fim da tarde acontece a cerimônia do por do sol, no terraço. É de arrepiar quando o sol vai se pondo ao som de uma gravação do próprio Vilaró, na qual ele agradece o sol pela sua existência e se depende de mais um dia. Bem próximo à casa, na ponta da península, está o Mirador de Punta Ballena, um mirante de onde se pode ver várias praias da região e ao fundo a cidade de Punta del Este.

Almoçamos na Viña Edén, uma vinícola cheia de estilo que fica a meia hora de Punta, em meio às pedregosas serras do Pueblo Edén. O solo de características minerais e a influência oceânica formam as condições ideais para a criação e produção de vinhos especiais. Por lá é possível  degustar os vinhos, fazer visitas guiadas à adega e pelo vinhedo, além de almoçar no moderno restaurante com vista panorâmica.

Colônia do Sacramento

Em cada esquina uma foto. A 180 quilômetros de Montevidéu, Colônia do Sacramento mais parece uma cidade cenográfica. São tantas as casinhas bonitas, as ruas cheias de charme, o farol e os veleiros ancorados que não tem como percorrer a antiga colônia portuguesa sem parar inúmeras vezes para uma nova foto. Sim, Colônia é a única cidade uruguaia colonizada por portugueses, por isso seu estilo é tão diferente.  

Para conhecer a região, não há um roteiro bem definido. O melhor é se perder pelas ruas de pedras, em meio aos inúmeros restaurantes e lojinhas. Vale partir do Portón de Campo, porta de entrada da antiga cidade, que ainda conserva restos da antiga muralha que existia por lá. Anexo ao portão há um centro de informações turísticas.

Uma das principais atrações é o farol da cidade, finalizado em 1857, que está junto às ruínas do Convento de San Francisco. Para subir você precisa de poucos pesos uruguaios e bastante disposição, mas a vista vale a pena. Lá do alto é possível observar todo o centro histórico e também o vai e vem dos barcos no rio. 

A cidadezinha é patrimônio da Unesco. Outra sensação por lá é a Calle de los Suspiros, com as casinhas mais lindas que você já viu. No coração do centro histórico está a Plaza Mayor. Passando por lá não resistimos a um legítimo helado.

Em resumo, um dia é suficiente para conhecer esse cantinho do Uruguai. Dá para fazer um bate-volta de Montevidéu ou de Buenos Aires, com uma horinha de barco.

Fotos: Pablo Contreras