Vários pais estão entrando em contato comigo pelas redes sociais ou pelo meu site perguntando se sou a favor ou contra a volta às aulas presenciais. Claro que sou a favor! E que isso possa acontecer antes do fim deste ano. MAS obviamente que eu gostaria que isso só acontecesse depois que nossas crianças, professores e papais (ou seja, todo mundo) fossem vacinados.

Se chegamos até agora com as aulas virtuais, sejam elas online, gravadas ou com atividades impressas para que as crianças cumpram períodos de trabalho escolar, por que razão interromper o que está dando certo (obviamente com muitas dificuldades ou problemas, mas funcionando) para colocar em risco tanta gente? Sei que muitos pais já não suportam ter que acompanhar as atividades escolares do filho e muitas crianças, muitas mesmo, já não aguentam mais as aulas nessas modalidades. Mas por que reiniciar as aulas presenciais colocando em risco a vida dos avós ou papais que têm contato com essas crianças?

Nos países em que a volta à escola foi determinada pelos gestores municipais ou estaduais, houve surtos de covid em praticamente todos. Portanto, não precisamos errar, podemos aprender com o erro dos outros. O outro lado da história é que as crianças estão sofrendo muito por estarem isoladas. É verdade. Precisamos atentar mais para a saúde emocional delas, pois é muito difícil a falta de interação com os amigos. E isso se faz reservando mais tempo de qualidade com elas.

“E por favor, não culpem os professores, pois a maioria deles está trabalhando muito mais nessa pandemia do que antes dela.”

Papais e mamães realmente gastando tempo para estar de corpo e alma com os filhos. “Alma” não pode ser celular, redes sociais, tecnologias etc. Tem que ser você de forma integral. Brincar, conversar, fazer coisas juntos como cozinhar, limpar, desenhar, brincar, ou outras atividades que facilmente a gente encontra sugeridas na internet. E para que tudo isso? Para que seu filho possa ter um pouco mais de interação de qualidade.

Segundo Reuven Feuerstein, educador israelense e autor da Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva, é a qualidade dessa interação a responsável por potencializar o desenvolvimento da inteligência e da criatividade de uma criança. Pode ser que seu filho não acumule muitos conteúdos curriculares, mas certamente vai acumular criatividade para vencer as próximas etapas da escolarização. E por favor, não culpem os professores, pois a maioria deles está trabalhando muito mais nessa pandemia do que antes dela. E como os fatos recentes em outros países já comprovaram, os professores são os principais atingidos por novos surtos quando as escolas reabrem sem a vacina.

Muitos podem dizer: “Mas as crianças na Finlândia, por exemplo, usaram máscaras e outras medidas preventivas e parece que está funcionando”. Sim, mas vocês sabem como? Muitas escolas dividiram as turmas em três, ficando cada uma com 5 a 7 alunos. Você sabe com quantos alunos nós professores trabalhamos em cada sala? 30 ou 40, às vezes mais. E se as turmas forem divididas, vão ocupar que salas? Não há! E se apenas dividirmos as turmas em duas, quem dará aulas para a outra metade? Nesses países, as crianças higienizam até mesmo os sapatos ao entrar na escola. Você realmente acredita que as medidas preventivas serão levadas a sério num país que não respeita nem o silêncio depois das 22h ou vagas de estacionamento para idosos?

De verdade, a culpa não é dos educadores. É da gestão de um país (por décadas) que não investe de verdade em pesquisa científica. Temos profissionais geniais, pesquisadores de alta qualidade, que já poderiam ter desenvolvido uma vacina se tivessem verbas para os laboratórios, para as pesquisas e para manter nossos pesquisadores no Brasil em vez de desvalorizá-los a ponto da maioria desejar continuar a carreira profissional em outros países. Que as aulas presenciais voltem logo. Logo depois da vacinação em massa.

Ah, repetindo um post das redes sociais que evidenciou nosso ridículo apoio às ciências: “Coloquem o Rodrigo Hilbert num laboratório que logo ele sai com uma vacina e mais uma fornada de pão caseiro quentinho”.

MARCOS MEIER

Escritor e palestrante de sucesso, tem participado do jornal “Bom dia Paraná” da RPC, afiliada paranaense da Globo. Veja seus vídeos em seu canal no Youtube. Toda quarta-feira tem mais dicas sobre vida em família para você aqui na VIVER