Referência em arquitetura afetiva, Givago Ferentz faz da ressignificação de objetos o segredo para transformar cada projeto em uma experiência inesquecível
Responda rápido: quando você pensa em experiências na arquitetura, o que é indispensável? Construções mirabolantes? Aparatos tecnológicos dignos de um filme de ficção científica?
Para Givago Ferentz, a resposta é bastante simples: sentimento. O arquiteto curitibano, que já assinou mais de 450 projetos entre ambientes residenciais e comerciais, é reconhecido por projetar espaços únicos e cheios de personalidade, que proporcionam infinitas experiências a cada um de seus frequentadores. Para compreender melhor o que significa criar experiências na arquitetura, conversamos com Givago e aprendemos que na verdade, a conexão com a essência de cada um e a atenção aos detalhes são imprescindíveis para criar um projeto cheio de significado.
Você sempre procurou adicionar experiências aos seus projetos?
Para mim, a arquitetura está totalmente conectada às experiências. As pessoas vivem e frequentam espaços em que a arquitetura, querendo ou não, se faz presente e provoca experiências – mesmo que imperceptíveis à primeira vista. Todos os espaços e as construções são para as pessoas. Eu notei que procurava criar ambientes especiais quando comecei a atuar com arquitetura comercial, porque sentia a necessidade de impactar as pessoas que frequentariam os estabelecimentos dos meus clientes de uma maneira ou de outra. Para isso, sempre coloquei provocações nos meu projetos. Um exemplo foi a inserção da arte de rua em ambientes internos, o que era incomum até pouco tempo atrás. Isso surpreendia e chocava as pessoas, ou seja, criava experiências.
Eu e minha equipe trabalhamos para que a arquitetura tenha alma, para que ela gere memórias e afetividades nas pessoas. Nossos projetos conversam com o usuário, e trabalhamos com alguns elementos-chave para proporcionar experiências especiais.
Você poderia falar um pouco sobre eles?
Identidade é um elemento obrigatório nos meus trabalhos. Eu busco fugir do óbvio quando vou atrás de identidades para criar meus projetos, pois quero garantir que eles sejam impactantes por essência. Aqui no escritório nós brincamos que não somos nem minimalistas, nem maximalistas ao extremo. Somos uma mescla de estilos e isso nos oferece uma grande gama de referências para criar. Garimpos são elementos essenciais em nossos projetos. Vamos a campo buscar relíquias que tenham potencial para transformarem um ambiente: de ferro velho à demolidoras, buscamos itens com potencial de ressignificação que fazem toda diferença em qualquer projeto. Isso porque eles trazem consigo uma história que adiciona muito mais humanidade aos ambientes, aproximando-se das pessoas.
Qual a importância da história ao pensar em criar experiências através da arquitetura?
Tenho um lema que me acompanha desde quando abri o escritório, que é: “fazemos arquitetura, vivemos histórias”. Aqui, nós entendemos que a parte fundamental para o sucesso de qualquer projeto são as histórias dos nossos clientes, do espaço que ocupam, do que eles querem trazer ao mundo. Como é algo que me move, eu sempre mergulho de cabeça na história dos meus clientes para extrair suas peculiaridades e características, que mais tarde irão refletir na identidade do projeto. A arquitetura não deixa de ser imagem, mas ela deve ter vida. E é através das histórias que eu consigo dar isso a elas.
Essa paixão pelas histórias dos clientes sempre te acompanhou? Quando você percebeu que ela seria um elemento decisivo no seu processo de criação?
Eu era uma criança que gostava de criar histórias para dar sentido às minhas brincadeiras. Sempre gostei de criar momentos, isso faz parte da minha essência. Essa paixão me acompanhou a vida toda, mas aflorou durante a faculdade, período em que percebi o potencial dessa visão para o meu trabalho como arquiteto. No início da minha carreira, por volta de 2012, atuei na área de hotelaria. Depois, passei a trabalhar em projetos residenciais e, na sequência, projetos comerciais. Em cada um desses trabalhos, não importa qual área fosse, eu sempre busquei contar histórias e criar momentos para cada pessoa que passasse por eles. Essa é a alma do meu negócio, e tenho muita sorte de ter ao meu lado uma equipe que concorda com essa missão e me ajuda a torná-la cada vez mais real.
Qual a importância de pensar em criar experiências na hora de projetar um negócio ou uma casa?
Um dos aspectos mais valiosos do ser humano são as emoções. E a arquitetura deve valorizar isso, principalmente nos dias de hoje. Estamos adentrando uma era digital, em que as pessoas não se relacionam nem trabalham da mesma maneira, e as vivências são mais virtuais do que nunca. A arquitetura tem o papel de oferecer uma experiência nova às pessoas que adentram um ambiente, de provocar nelas um sentimento de reconexão com o “mundo real”. A experiência não precisa ser óbvia ou extravagante. Muitas vezes, um detalhe na iluminação é suficiente para impactar as pessoas. Criar um ambiente com mais essência, sentido e propósito é fundamental para qualquer projeto, e é algo que todo arquiteto deveria fazer.
Flor de Sal
“A Flor de Sal remete às feiras antigas. Quando o cliente entra na loja, ele é imediatamente levado a uma praça, com tendas e produtos a granel expostos. Fizemos uma releitura desse conceito para criar uma memória afetiva e uma relação com o passado.”
Café do Viajante
“Adentrar o café do viajante é como viajar! O projeto foi baseado na ideia de criar um circuito ao redor do mundo no ambiente do café. Buscamos por móveis e peças de decoração que referenciassem a cultura dos cinco continentes.”
Supimpa Casual Food
“A ideia por trás do Supimpa era criar um ambiente com ares industriais, mas que também fosse aconchegante e alegre. Para isso, investimos em revestimentos de tijolos e cimento queimado. Ao mesmo tempo, as cores dos móveis e as obras de arte assinadas pelo artista Nono criam uma vibe acolhedora, o que torna o restaurante ainda mais especial.”
Foto: Gustavo Lubian Foto: Gustavo Lubian