Foto: Pablo Contreras
Foto: Pablo Contreras

 

Alice! Recebe este conto de fadas e guarda-o, com a mão delicada, como a um sonho de primavera…

– Lewis Carroll

 

O poema que abre o clássico Alice no País das Maravilhas parece perfeito para descrever a relação da jornalista Adriana Milczevsky com seu apartamento. Ela se mudou há um ano com o marido, o engenheiro Marcelo Rendak, e seus dois filhos vive um conto de fadas em uma casa cheia de significado. Os quadros, pintados por amigos e irmãos, objetos garimpados em viagens longas ou em caminhadas despretensiosas pela cidade, tudo tem um por quê, inclusive os cantinhos que ainda estão vazios. Aliás, dois exemplares de Alice no País das Maravilhas fazem parte da decoração já que este foi o primeiro livro que a jornalista leu. Adriana é apresentadora do programa Painel RPC e presidente do Grupo de Apoio Adoção Consciente e nos recebeu para falar um pouco sobre a relação entre casa, vida e maternidade. Vamos entrar?

 

Você sempre teve o sonho de uma casa como a que você tem hoje?

A gente foi construindo. Quando nos casamos, a gente tinha um plano que era completamente diferente desse. O projeto da casa foi refeito três vezes. A vida foi tomando outros rumos e aquela casa linda e com bosque nos fundos não era mais o que servia naquele momento. Fomos para um apartamento menor, o tempo passou, os filhos começaram a chegar e percebemos que era hora de pensarmos em um outro ambiente. Mais uma vez veio a ideia da casa, mas no fim acabamos vindo para este apartamento.

 

Sonho precisa de tempo?

Com certeza. Eu e o Marcelo não nos incomodamos de construir devagar e com o apartamento, foi muito melhor do que imaginamos porque compramos na planta e não tínhamos muita noção do espaço ou de como seria estar no 13o. andar. Na primeira vez que anoiteceu aqui eu olhei para fora e falei para o Marcelo. “Eu ganhei de presente essa vista”. O que eu acho muito legal é esse impacto que estar aqui causa em mim todo dia. Eu faço questão de estar no horário do por do sol, porque não quero perder esse espetáculo.

 

Foto: Pablo Contreras
Foto: Pablo Contreras

 

Sua casa ainda tem alguns espaços vazios. É uma opção?  

A gente fez a escolha de que fosse desse jeito para não abrir de outras coisas nesse momento. A ideia foi manter o ritmo da nossa vida sem mexer muito na questão do orçamento. O curioso é que a gente vai mudando e as ideias de como decorar a casa também. O próprio projeto da varanda mudou muitas vezes. A nossa arquiteta (Marília Remes) fica louca com a gente. (Risos)

 

Como tudo isso vai se encaixando?

O fato de você não entrar com tudo programado, você começa a viver a casa e aí passa a perceber o que você precisa de verdade. A sala da frente praticamente não tem móveis e hoje é o espaço de diversão das crianças. Elas brincam, dançam e até correm ali. É um espaço vazio, mas que nos completa, porque hoje ele tem o significado deles poderem crescer correndo dentro de casa. As coisas mudam muito, mas nossa intenção é que essa seja a nossa casa na aposentadoria. Então é possível dar mais prazo para concluir o que vai ser para  

 

Foto: Pablo Contreras
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Foto: Pablo Contreras
Foto: Pablo Contreras

 

Foto: Pablo Contreras
Foto: Pablo Contreras

 

Como foi a decisão de adotar os filhos?

Foi uma escolha difícil. As pessoas compreendem a adoção com mais facilidade quando você tem um problema. Quando você diz “eu desejo”, há uma cobrança muito forte da sociedade. Porque é como se para ser mulher tivesse que ser genitora. E eu, embora venha de uma família de quatro filhos, nunca tive essa vontade. Eu sempre desejei ser essa mãe que eu sou hoje, mas eu demorei para descobrir que esse podia ser um caminho.

Por muito tempo eu dizia que e eu não queria ser mãe, mas na verdade eu apenas não tinha o desejo da gestação associada. É muito difícil falar isso porque as pessoas não entendem muito facilmente essa opção.

 

O que é ser mãe para você?

É praticar o amor incondicional diariamente. Para mim, mãe é quem cuida. Me sinto mãe quando passo uma madrugada em claro, com uma toalhinha de água fria tirando a febre deles. Naquela hora só a mãe poderia estar ali. Passei recentemente por um episódio de um assalto a mão armada e eu não tive dúvida de que a minha vida só valia a pena se fosse para a dele continuar. Para mim é muito claro que quando a mulher está gerando, ela é gestante. Você só vira mãe quando nasce o filho. E isso é igual para todo mundo. Eu só virei mãe quando o Marcelo chegou para mim. A maternidade acontece com o filho.

 

"Sempre quis ter em casa estas asas de anjo como nos grafites. o artista plástico carlos chá, que é um grande amigo, fez especialmente para mim. a curiosidade é que ele pintou o quadro com base em penas que encontrou pelo caminho. quando ele foi me entregar o quadro e me deu as penas eu tive a maior surpresa do mundo. ele não sabia, mas tenho um hábito de colecionar penas que encontro em momentos especiais. é como se elas me sinalizassem que algo que desejo está para acontecer." Foto: Pablo Contreras
Foto: Pablo Contreras

 

“Sempre quis ter em casa estas asas de anjo como nos grafites. o artista plástico carlos chá, que é um grande amigo, fez especialmente para mim. a curiosidade é que ele pintou o quadro com base em penas que encontrou pelo caminho. quando ele foi me entregar o quadro e me deu as penas eu tive a maior surpresa do mundo. ele não sabia, mas tenho um hábito de colecionar penas que encontro em momentos especiais. é como se elas me sinalizassem que algo que desejo está para acontecer.”

 

Qual a importância na sua vida do seu trabalho na TV?

Foi na RPC, numa entrevista do Bom Dia Paraná, que eu conheci uma pessoa chamada Hália Pauliv, que me despertou para a adoção. A TV é minha grande base e tenho certeza de que eu faço meu trabalho e recebo para isso, mas eu ganho algo maior que dinheiro, que é a oportunidade de estar com as pessoas. Começou lá no Globo Comunidade e com o Painel RPC eu pude dar continuidade. Eu posso dizer com todo amor que hoje eu sou o que eu sou graças ao que eu faço diariamente. Eu sou feita de cada pessoa que passou na minha vida e me entregou um pedaço da sua história, das suas experiências. É por conta dessas histórias que o meu trabalho de cada dia me faz desejar ser uma pessoa melhor.

 

Foto: Pablo Contreras
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