Banda de rock formada por médicos mostra a importância em equilibrar trabalho e lazer

Da utopia de sonhar que médicos podem, e devem, reservar para si momentos de descanso e lazer nasceu o nome da banda de rock: “Uso Utópico”. Formado pelos médicos Rogério de Fraga, Marcos Sigwalt, Luiz Araújo, Alexandre Soares, Marcelo Wada e Gabriel Schier, o grupo mantém a rotina de ensaios e realiza apresentações em eventos médicos e ações beneficentes quando as bandeiras permitem, é claro. “A música é uma das conexões humanas mais ancestraisque existe. É um exercício excelente para a saúde mental e social”, diz o vocalista e urologista Rogério de Fraga, professor daUFPR e da PUCPR, que também atua no Hospital Marcelino Champagnat.
Para ele, uma das maiores mudanças do mundo contemporâneo é termos o lado B tão presente quanto o lado A. “Acho que as pessoas ficaram mais multifacetadas e hoje a gente já não sabe exatamente o que é A e o que é B. Olhando sob a metáfora dos discos, vivemos uma perspectiva de streaming”, destaca. “O Lado B está muito presente. Se você só se concentrar no lado A corre o risco de se robotizar nas entregas. A melhor forma de ser uma boa pessoa e um bom profissional é deixar florescer quem você é na essência. E o hobby é oque catalisa isso. Quem não tem precisa ir atrás, urgentemente”, ensina. Para exemplificar a importância de se ter uma atividade lúdica, Dr. Rogério de Fraga recorre a uma entrevista em que a psicóloga do Centro Espacial Johnson da NASA, Lauren Blackwell Landon, destaca que uma rotina equilibrada é fundamental para lidar com a pressão de viver e conviver em uma missão espacial. Ela afirma que não é só o treinamento que é capaz de manter lúcido quem viaja para o espaço. Os astronautas também são encorajados a manterem ou adquirirem passatempos como leitura, fotografia e música e inclusive um viés espiritual. Tudo isso, todos os dias. “É preciso buscar o equilíbrio sempre, a todo momento. Qual a mensagem que eu passo para o meu cérebro quando me dou ao direito de ter uma hora de ludicidade por dia? Eu estou dizendo para mim que a minha existência não se limita a entregar o trabalho que eu faço, que eu posso me conectar ao mundo e às outras pessoas de outra maneira”, explica. Por falar em formas de conexão, o Dr. Fraga conta que faz parte do Serviço de Voluntariado no Hospital Marcelino Champagnat e no Hospital Universitário Cajuru e que tocar para os pacientes é um exercício e uma aula de empatia. “Tem um grupo excelente de pessoas que tocam instrumentos e quando vamos nos apresentar para os pacientes e quando perguntamos o que eles gostariam de ouvir estamos nos conectando através da música. Essa troca é extremamente rica, sobretudo em um ambiente tão complicado quanto o hospitalar”, afirma, ensinando que “qualquer que seja o Lado B faz você se conectar com uma entrega que revela a pessoa que você é e o faz evoluir de uma maneira universal. É preciso se dar esse direito”.


É DISCIPLINA?

A grande pergunta é: a felicidade é uma bênção ou uma conquista, garantida com base em muita disciplina? Com uma agenda lotada, certamente sem estabelecer prioridades esses médicos jamais se encontrariam para ensaiar. “Disciplina é importante para o trabalho, mas também para o lazer. A gente se dá desafios, metas. Usamos as apresentações como pano de fundo para ter a rotina de ensaios. E como dois integrantes da banda têm estúdio em casa, acompanhamos as bandeiras e nos reunimos para ensaiar, quando é possível”, comenta.


ARRECADAÇÃO

A banda não tem fins lucrativos, mas uma das maiores alegrias do grupo é participar de ações como as noites do ArrecadaRock, no Hospital de Clínicas, onde a renda da venda de camisetas foi revertida para comprar equipamentos para ambulatório. “Quanto mais eu sou médico, mais eu conheço realidades que eu posso ajudar. Eu ajudo com a medicina que eu sei, ajudo com a pessoa que eu me transformei e ajudo até com o meu hobby”, destaca Dr. Fraga.