Se existe uma palavra que pode definir nossos rumos e a maneira como encaramos a vida, nosso trabalho, carreira, sonhos e frustrações, essa palavra é: adaptação. A começar por Charles Darwin, que em sua teoria da evolução das espécies nunca teria dito que o mais forte sobrevive na natureza, mas sim o mais adaptado.
Não baixe a guarda
Também cheguei a conclusão, após quase 20 anos de trabalhos, que a frase do famoso naturalista inglês se aplica perfeitamente a cada um de nós em nossas vidas pessoal e profissional. Da mesma maneira que um animal evolui e se adapta a ambientes hostis, recursos escassos e relações difíceis, certamente convivemos com situações muito similares em nossas vidas. Somos sim capazes de nos adaptar a qualquer tipo de situação, ambiente ou dificuldades. Aprendemos com elas e seguimos em frente. O problema é que a capacidade de adaptação que temos à situações desconfortáveis é a mesma para situações confortáveis demais e, às vezes, baixamos a guarda quando devemos sempre estar ligados e prontos para agir.
Prepare-se para o inesperado
Vivemos cercados e influenciados por circunstâncias que podem nos favorecer ou prejudicar, e isso dependerá de como reagimos e nos adaptamos a elas. Situações circunstanciais não marcam hora para aparecer diante de nós — ou você já recebeu um WhatsApp dizendo “olha lá, lá vem um problemão aí”? Ninguém avisou o mundo que teríamos uma pandemia.
Por mais planejados, detalhistas e ligados em dados e estatísticas que formos, nunca estaremos 100% preparados para uma situação adversa que possa aparecer. Não é possível prever tudo. O importante é estarmos preparados e principalmente termos novas habilidades, sabedoria e a agilidade para nos adaptarmos rapidamente, mudarmos a rota, buscarmos apoio, resolvermos o problema e seguirmos em frente de outra maneira.
Adaptação é uma questão de escolha
Por mais imprevisível, cruel e desfavorável que possa ser uma situação, no final das contas é inegável que ainda temos algo a fazer e nos apegar. Temos a escolha. Temos o poder de escolha para decidir, quase no exato instante, como vamos reagir e resolver esse problema que subitamente apareceu. E é justamente nessa hora que as pessoas estão nos observando. Para citar alguns exemplos práticos, pude aprender dentro da organização de um dos maiores eventos de líderes empresariais e chefes de Estado do mundo que quanto menos você espera, algo pode — e vai — acontecer.
Trabalhar na organização do Fórum Econômico Mundial foi uma das experiências mais intensas no exercício de adaptação e reação que tive em toda minha vida. Afinal, um leve deslize, um planejamento mal feito ou a falta de ação e atitude em algum momento, pode levar a constrangimentos para grandes clientes ou até incidentes diplomáticos sérios. Em um evento desse porte, tínhamos que estar extremamente preparados, alinhados e prontos para agir em qualquer situação.
Tudo parece estar perfeito? Isso é um risco
Uma vez, um dos diretores do Fórum me disse algo que levo para a vida: “Está tudo pronto. O evento está perfeito, temos os melhores equipamentos, as melhores equipes e a melhor qualidade. Mas é nessa hora, em que achamos que temos tudo sob controle que os principais problemas podem aparecer. Se estivermos olhando para o lado, distraídos ou relapsos, não perceberemos os erros a tempo de corrigi-los rapidamente. Por isso, esteja ligado principalmente nos momentos em que achamos que está tudo perfeitamente bem. Se somos os melhores nisso que estamos fazendo é porque estamos ligados em tudo ao nosso redor, nos planejamos e agindo rápido, muito antes dos outros e até de nossos clientes perceberem.”
E se mesmo assim não fosse possível, o pensamento era “reveja o processo rapidamente, desvie a rota, e nem mesmo os clientes vão perceber o quão sério era o problema”. Adaptação intrínseca à percepção é o melhor remédio.
Desenvolva a habilidade de se antecipar aos problemas
Nos trabalhos que realizo junto a empresas, sejam em criatividade, inovação, comunicação, marketing ou eventos, sempre percebo situações adversas que podem acontecer ou que estão circulando nos ambientes. Minha atitude é simplesmente tentar antecipá-las, me preparando para elas junto ao meu cliente. Essa habilidade, é claro, desenvolvemos com tempo e experiência, mas todos somos capazes de nos anteciparmos e adaptarmos. No final, continua sendo uma questão de ouvirmos nossa intuição e experiência, que estão sempre tentando nos dizer algo que devemos ou não devemos fazer.
Finalmente, há também situações adversas e fatores aleatórios graves que acontecem e que, por mais preparados que estivermos ou mais rápidos que formos em nos adaptar, podem ser impossíveis de serem corrigidos, atenuados ou resolvidos. Talvez eles indiquem ruptura, mudança e novos caminhos. Recomeço e quebra. Como talvez o momento atual para muita gente. Mas continuamos a ter possibilidade de adaptação.
Afinal, somos nós e nossas circunstâncias. Não adianta brigarmos contra elas. Precisamos saber identificá-las e usá-las a nosso favor. Caso contrário, elas nos serão certamente desfavoráveis. E nós perderemos sempre.
JEAN SIGEL
Pai de duas meninas – a Giulia e a Nana -, empreendedor por natureza e escritor em evolução. É também especialista em projetos de criatividade empresarial, comunicação e marketing e co-fundador da Escola de Criatividade, organização especializada em consultoria, projetos e educação corporativa em criatividade de negócios. Jean escreve todas as quintas sobre negócios e inovação aqui na VIVER Curitiba.